domingo, 16 de fevereiro de 2014

O mal do moralismo. Há solução contra ele?




Dentro da Filosofia o debate sobre a moral estende-se entre as diversas correntes de pensamento, podemos ter como exemplo o embate entre o Utilitarismo de Mill e o Pragmatismo, tendo o filósofo estadunidense Richard Rorty como representante. A ética desde Sócrates, Platão e Aristóteles funciona como uma filosofia dos valores morais, refletindo sobre a ação humana e suas implicações morais na vida em sociedade, no caso dos gregos, a Pólis. Didaticamente costumo chamar a ética de ”juíza da moral”. Bem, acrescentar essa informação de início foi importante a fim de distinguir a moral e a ética de algo que, ao contrário da qualidade destas duas últimas, é um mal disseminado: o moralismo. Primeiramente, vejamos o que o dicionário diz sobre ele:

Moralismo
Excesso de preocupação com questões de moral, tendendo para a intolerância e o preconceito.
(Fonte: Dicio)
Logo, o que podemos inferir? Estamos diante de uma antinomia: de um lado a moral, a parte filosófica que trata dos costumes e dos deveres relacionados ao proceder do homem que vive em uma sociedade e de outro lado o moralismo, que nada mais nada menos, é um exagero ou também podemos chamar de fanatismo* pela moral. Este está presente em vários locais: no feminismo, na escola, na universidade, na religião e em grupos de defesa racial e, surpresamente, em pessoas próximas de você! Até na sua casa!
Mas, quais são os pontos que podemos colocar como ‘peculiaridades’ de grupos moralistas? O primeiro deles é a facilidade de acusar, isto é, ao ouvirem algo ou verem determinada atitude não refletem se foi empregada a ironia, se são retratados os costumes de uma época e, acima de tudo, odeiam a liberdade individual de outros: se eles têm a concepção x sobre determinada atitude ou palavra e nós a y isto já é motivo para acusação, para recorrer às chamadas “autoridades locais” ou, em casos mais radicais, fazer justiça com as próprias mãos em cima da ou das pessoas que acusam. Ouvi certa vez que Ortega Y Gasset, um filósofo espanhol, ao elogiar a beleza de uma mulher- que era feminista- logo foi acusado por ela de tratar sua condição humana como “objeto”. Eis um exemplo.
Uma atitude de grupos moralistas também é provocar, porém jamais aceitar ser provocado- aí está o falso moralismo: a mulher anda de short curto ou outras roupas provocantes, mas logo esperneia ao ser chamada de “gostosa” ou levar outra cantada. O negro detona o branco e não quer tolerar uma atitude contrária, o mesmo valendo para a feminista ou o religioso. Jamais o que é correto ocorre: as acusações entre os opostos cessarem.
Há uma solução?
Quando publiquei um status no Facebook sobre a má qualidade da educação no nosso país, um amigo disse nos comentários que devemos fazer a nossa parte. Pois bem, isto é um bom caminho e, além do mais, qual outro? Recai no que citei acima: educação que já anda péssima em estrutura e paga mal os professores, logo, escola boa se dá também com professor bem pago, a escola que dá um bom suporte crítico individual e coletivo. Algo que é a solução eficaz, mas infelizmente está precário.

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6 comentários:

  1. Observando os moralistas do cotidiano, vejo que todos apresentam inveja. Por exemplo, um casal insatisfeito tende a reclamar daqueles que "ferem os bons costumes", as ditas "vagabundas", por exemplo. A raiz do moralismo parece vir de problemas da vida que foram mal resolvidos.

    Muito bom o texto!

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  2. Discordo de uma parte: não seria um direito da mulher poder "espernear-se" ao ser chamada de gostosa? Faz parte de sua liberdade individual escolher a roupa que deseja sair. Sofrer qualquer tipo de assédio é uma invasão de sua liberdade, portanto questionar tal invasão, ao meu ver, não se caracteriza como moralismo.

    Continue postando, estarei acompanhando. Abrços.

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  3. Rafael Ayala Ferraro? "Gostosa" é insulto para a mulher poder espernear? Isso sim é o falso-moralismo do seu comentário. Abraços!

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  4. É a mulher quem decide se ser chamada de gostosa é ou não um insulto, e não quem enuncia o "elogio", como o contumaz senso comum tenta pregar.

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  5. Bom, adorei seu texto Daniel Mota, muito bom mesmo, dentre o que seria direito da mulher ser chamada ou não, considerar ofensa ou não, é bem relativo, a ofensa é relativa, pessoalmente eu sou contra crimes de "ofensa", quem não agride (agressão pode ser tudo que houver contato físico proposital não consentido, como assédio) a pessoa, lhe tira sua liberdade ou seus bens materiais não seria considerado crime pois isso é estender sua propriedade a boca alheia, que, no caso de se está em ambiente público, não seria crime, afinal não é propriedade de ninguém. No privado é diferente, o dono que decide, por exemplo, nenhuma pessoa pode ir na casa alheia e fazer algo não consentido com essa pessoa, como assediar ela, em geral, coisas assim não precisam ser faladas, existe um consenso, a prática da paquera, por exemplo, é ir até o limite desse consenso, recuando até que haja atração mutua, mas em qualquer momento o dono pode expulsar a pessoa sobre qualquer pretexto.
    Tem um livro muito bom sobre "Defendendo o indefensável" de Walter Block que engaja uma argumentação contra os crimes de ofensa, por exemplo, ofensa é uma internalização, ninguém ofende o ofendido, o próprio ofendido se ofende, é um sentimento, como o amor, como ódio, não predispõem que o ofendido tenha sido deixado assim pela prática do "ofensor", mas por como recebeu esse insulto, o que é um processo bem complicado, mas pra efeitos práticos, quando se posta uma imagem de Jesus com mulheres numa orgia no facebook, várias pessoas religiosas podem se ofender, considerar um insulto, isso porque eles tomam pra si uma noção moral com base em um ídolo (Jesus) e estende isso para os outros, o que levam a querer denunciar etc, é o moralismo, dessa mesma forma, penso eu, as feministas fazem, tomam pra si uma noção externa ao corpo (que seria sua imagem, ou o que homens veem nela), bem como um moralismo, e quando alguém investe uma coisa tal para a imagem ela se sente ofendida, mas sua pessoa ta intacta, sua propriedade é a mesmo, o ganho ou perda, as implicações mentais que ela vá há ter é de responsabilidade só dela, ninguém mandou cultivar ídolos e ser moralista.

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