sábado, 4 de outubro de 2014

A postura niilista diante das eleições: razões que a justificam


Durante toda essa época eleitoral, presenciamos seja na mídia tradicional ou na mídia social, propagandas com as mais variadas propostas: a esquerda não muito evoluiu de um discurso arcaico baseado no marxismo da velha guarda, a direita conservadora fala em uma ‘família tradicional’, mas a explica de forma muito superficial, mas a defende a unhas e dentes a ponto de levantar discursos injuriosos quanto às minorias e partidos de centro-direita e centro-esquerda não escondem que possuem lá seus interesses com os empresários de plantão, isto é, os banqueiros e os donos de empreiteiras, enquanto o IBOPE comanda a intenção de votos de muitos através de suas pesquisas. Quanto mais essas características se acirram, mais difícil fica o ato de votar, aliás, no nosso país ele não é fácil, pelo contrário, é árduo.


Quando mais jovem, quando não podia votar, eu, ingenuamente, possuía um entusiasmo para poder ter esse momento, aliás, qual criança e adolescente não quer ter o direito de fazer algo que os adultos reverberam? Eu notava que havia uma necessidade, por minha parte, de interferir no processo através da minha escolha, mas ficava inviabilizado. Agora, passado um tempo, e tendo atingindo maturidade mental e também adquirindo maturidade filosófica vi como, de fato, é um processo árduo a escolha de candidatos, do qual as pessoas tanto reclamavam quanto a essa tal situação. Recentemente  defendo que esse processo acaba por conduzir a um niilismo, um termo que, como conhecemos, é muito atribuído a Nietzsche, aludindo a uma “desvalorização dos valores”. “Mas, Daniel, assumir uma desvalorização diante dos valores das eleições”? Isso não é estranho? Bem, por mais que tentamos evitar, é impossível não ser tomado por esse “niilismo eleitoral”, mas vejamos melhor as razões para que ele ocorra.


Já notamos que a eleição caminha para o chamado “mais do mesmo”: os candidatos de ponta de tabela nas pesquisas pouco buscam ir ao foco principal de problemas existentes a serem resolvidos. Peguemos a área da Educação, por exemplo: o foco é o investimento no ensino técnico, o tão famoso PRONATEC proclamado pelo PT e não a chave de solução: o salário dos professores, os míseros 9 reais a hora-aula ou como colocou o candidato Eduardo Jorge, do PV, no último debate, na Rede Globo: “os dois salários mínimos”, respondendo e muito bem no diálogo com a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff. A política do Brasil reflete um exagero na demagogia, na insegurança, nas contradições e muitos candidatos parecem ter medo de ir mais à frente e, isso, não apenas no cargo de presidente, para deputado federal e estadual, senador e governador. Como não assumir uma proposta desvalorizadora dos valores morais e eleitorais levantados por eles? Impossível! Votar não ficou estritamente como uma escolha de um bom líder, mas sim uma escolha por gosto, só por simpatia “com a cara” de um candidato. Fora o fato tão questionado pelas pessoas, até por leitores meus, de vivermos em uma dita "Democracia", mas todos nós sermos obrigados a ir às urnas, além da propaganda eleitoral ser veementemente obrigatória. O que será isso? Uma contradição? Uma má-fé para com os preceitos democráticos? Mas sabemos que se votar, fosse um ato optativo, provavelmente poucos iriam às urnas. Essa é uma das respostas! Sabemos!


Alguns podem objetar que eu, filosoficamente, queira uma utopia, algo raro de acontecer, visto isso ser um problema sem solução para o país. De fato, é impossível pensar em um Estado como o elaborado por Platão ao longo dos livros d’A República, ainda mais quanto à Educação (só a utopia mesmo está resolvendo, convenhamos) e ao rei-filósofo como governante, a ideia do estado ‘igualitário’ de Marx fica descartada das minhas intenções, pois suas tentativas de implantação foram para o ralo muitas vezes ao longo da História, basta que nos movermos para pesquisar um pouco mais sobre o assunto. Mas, que tal pensar em uma utopia? Devemos ter em mente que mesmo vigorando o que vigora hoje, politicamente, isso nunca é o ideal? É difícil conceber, na realidade que vivenciamos, um governante tão virtuoso como o meio-termo de Aristóteles, isso não podemos negar.


Assim, negar à adesão ao pessimismo ou desvalorização de valores levantados pela política não é algo estranho, é até peremptório, decisivo, vejamos às razões levantadas: às vezes assumimos a postura de Sartre no século XX denunciando algo que é “burguês”, outras vezes, como Aristóteles, buscamos o meio-termo ou como Platão, tentamos recorrer à utopia, mas o pessimismo retorna, visto que ela é inviável. Creio que o leitor também sente isso e que somos obrigados não a buscar ‘o melhor’ em termos da política, mas o “menos pior”, infelizmente.

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