segunda-feira, 3 de março de 2014

O autodidatismo como auto-engano




A escola sem dúvidas é o local do aprendizado efetivo, nela encaramos exames e pela arguição com nossos professores e pelo diálogo com eles e entre colegas podemos confirmar nossos conhecimentos sobre determinado assunto e tomarmos ciência dos pontos, dos aspectos em que estamos errando. À universidade atribui-se o mesmo valor quando há, de fato, interesse. Negar a presença nestes ambientes e trancafiar-se a fim de buscar por si conhecimento ou, enfim, o autodidatismo é um auto-engano e o objetivo deste texto simplesmente é esclarecer o porquê dessa atribuição a essa prática.


O ensino formal apresenta os seus problemas e eles são graves, não podemos negar: professor mal pago com hora-aula valendo menos que atividades banais, déficits de estrutura nas escolas públicas e universidades, má distribuição dos conteúdos e disciplinas, falta de professores, etc., mas isso não justifica o desprezo de um indivíduo por esse sistema. É notável que para ser burro é indiferente estar dentro ou fora da universidade e o autodidatismo ao qual me refiro não é apenas aquela busca que fazemos quando uma disciplina de um determinado período tem prejuízos e precisamos correr atrás do que foi perdido lendo nos livros de autores especializados, por exemplo, não, não é isso. Ser autodidata aqui se refere ao desprezo pela educação formal aliado a um ressentimento contra os acadêmicos que muitas vezes é acompanhado pelo alinhamento ideológico, principalmente à direita, banal hoje em dia, algo que tornou rara a discussão inteligente sobre política, principalmente nas redes sociais.


O autodidata por repulsar a educação formal deixa de pôr seus conhecimentos à prova por meio de diálogos com os colegas de saber. Um fato muito comum que encontramos na atualidade é um adepto do autodidatismo angariando milhões de seguidores: por ter cursado um péssimo ensino básico uma grande parte da população dá créditos a um embusteiro qualquer e o tomam como um ‘deus’ que jamais pode ser questionado e o tal passa a ser tomar como um grande sábio e podemos até mesmo constatar que muitos que defendem a prática autodidata e esbravejam contra universidades como a USP são incapazes até mesmo de serem aprovados no ENEM e em vestibulares.


Enfim, gente, apesar do autodidatismo apresentar suas ‘vantagens’: liberdade intelectual, autonomia argumentativa. Nós na universidade devemos combater práticas como as relatadas. A escola, apesar dos defeitos, ainda é a solução. Foucault colocou que ela adapta a alma ao corpo, trazendo o amadurecimento e assim, a responsabilidade. Na Filosofia, temos a necessidade de passar pelo elenkhós- o método de refutação socrático- e apenas o banco acadêmico ainda pode nos proporcionar isso e não quando nos trancamos em um quarto a fim de absorver um conteúdo de um livro e sair por aí alarmando que ele é y quando, pela falta da refutação, é Z. E, apesar de esclarecermos isso, muitos ainda questionam em prol do autodidatismo. E até hoje eu não consegui entender o porquê de até certos acadêmicos tomarem o combate ao autodidatismo como uma polêmica.


Deixo como frase final:


Ser autodidata é como prosseguir na leitura de um livro sem entender o que foi lido nas páginas anteriores.


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