sábado, 17 de maio de 2014

A felicidade é a anestesia da vida: desdobrando essa afirmação




"A felicidade é a anestesia da vida". Posso dizer que formulei essa frase espontaneamente enquanto navegava pela Internet em uma manhã de Domingo. Claro, houve influências remotas da ética aristotélica, inclusive pelo fato de eu estar estudando Ética I no segundo período de Filosofia, o qual eu cursava na época. E, além do mais, influência do Existencialismo marcado por minhas vastas leituras de Sartre. Certamente muitos não conseguem compreender quando eu faço a ligação de um suposto "efeito anestésico" da felicidade relacionado à vivência ou, utilizando-se de Heidegger, do Dasein.


O homem é um ser livre para realizar suas escolhas e se fazer como bem entender, mas desviar-se da facticidade é uma ação fora de seu alcance. O factual permeia a nossa existência, isso sem dúvidas, posso dar inúmeros exemplos: o olhar inesperado dos Outros quando estamos andando pelas ruas ou quando chegamos a um lugar, um acontecimento que nos conduz de imediato à alegria ou à tristeza, a educação que adquirimos, etc., etc. Bem, após essas explanações estamos bem próximos de esclarecer o que é essa "anestesia" à qual me refiro. Vejamos:


Existir enquanto um Ser Para-si-para-Outro se equilibrando entre escolhas e consequências, onde nenhuma moral, nem mesmo a cristã, tem a capacidade de dar direção às nossas ações (visto que nós escolhemos). Podendo passar em imediaticidade da alegria à tristeza e, além do mais, tendo consciência da futura morte e, ainda por cima, viver bem, é estar anestesiado pela felicidade. Um estado emocional que também convém a nós sua manutenção, somos seres desamparados pelo mundo, ninguém além do indivíduo pode fazê-lo-assim-como-ele-é. Aristóteles estava certíssimo no livro I da sua "Ética Nicomaquéia" ao afirmar que todas as ações humanas visam um bem: a felicidade, nada mais além do que ser feliz.


O personagem Roquentín, de "A Náusea", o primeiro romance Sartriano que trouxe à tona os princípios da reflexão filosófica da França do século XX retrata bem o que eu relato: um historiador que transcende um lugar à outro para realizar pesquisas acerca da vida de um homem chamado Rollebon. Mas, que ao longo de sua vasta aventura como pesquisador, da biblioteca aos cafés parisienses e às ruas tem grandes experiências acerca de sua existência, como ser-no-mundo, seu desamparo emerge, vem à tona, eis aí a náusea, título da obra. Viver feliz em um contexto como dele é estar fortemente anestesiado


É assim, meus caros leitores, que vocês devem compreender o que expresso com anestesia no meu aforismo. Devido a ele já recebi elogios, Fico feliz por também consegui abordar esse tema fora do tom 'auto-ajuda', que alguns infelizmente acham que é a Filosofia. Vejo isso como um bom retorno tanto das minhas vastas leituras de Sartre como das aulas de Ética I que assisti durante o meu 2º período de Filosofia na UFRRJ. Sem mais.


Compartilhe!

Um comentário:

  1. Você ainda tem material escondido sobre essa "felicidade como anestesia da vida"...

    ResponderExcluir