“Vergonha, medo e orgulho são, portanto, minhas reações originárias, as diversas maneiras pelas quais reconheço o Outro como sujeito fora de alcance...”
Esta é a definição de Sartre- um filósofo contemporâneo francês
do século passado- em sua obra magna “O Ser e o Nada”. Bem, quem nunca sentiu
vergonha ou presenciou a vergonha de alguém podendo ser alguém em uma situação
constrangedora na rua, no colégio, na universidade ou até mesmo um familiar na
sua casa? Você certamente tem inúmeras histórias a contar sobre esse tema. As
pessoas sempre buscaram se prevenir contra esse sentimento que nos inibe. Você
já ouviu alguém dizer ao pé do ouvido de certa pessoa: “cuidado para não passar
vergonha... Olha lá o que você vai falar... Aviso de amigo: não saia com essa
roupa, pois os outros irão rir...” Uma mãe diz aos outros: “não quero que meu
filho passe vergonha”, etc., etc.
Esta é a chamada vergonha fundamental ou de ser objeto: o
olhar do outro nos retira da condição de sujeito e nos objetifica, nos torna um
mero objeto sujeito a nomeações e também a demonstrar seus diversos caracteres
e a pessoa que nos olha age como um sujeito, isto é, como uma pessoa dotada de
liberdade reparando outra liberdade objetificada, um Em-si. A vaidade surge
justamente neste meio: procuro utilizar o corpo para despertar ou amor ou
admiração no Outro. Daí o fato das pessoas irem às inúmeras clínicas de
estética para reparar as marcas de idade e amortecer as vergonhas da velhice,
não sair com uma roupa velha ou rasgada afim de não causar má-impressão em quem
as cerca e optar pelas roupas consideradas “de marca” e não as muito “baratas”.
A vaidade é uma pura atitude de má-fé, diz Sartre, visto que eu tento me fazer
sujeito e o Outro tento fazer como um objeto de contemplação do meu eu, porém
não escapo de ser mera imagem, até ‘requintada’. Vestir-se ou vestir-se de
determinado modo, que foi um exemplo que citei, é dissimular a própria
objetidade, reclamar o direito de ver sem ser visto, o autor logo antes desse
trecho a qual me refiro dá o exemplo bíblico do pecado original e Adão e Eva
que logo ao serem tomados pela vergonha um do outro, procuraram formas de se
vestir.
Aí justamente se situa a desilusão
da vaidade, como põe Sartre no livro: ao constituir o Outro como objeto
voltado para a minha ‘beleza’ ou ‘sofisticação’, acabo não saindo de qualquer
maneira da condição de imagem em seu âmago. Tentamos fundir uma imagem com o
nosso ser e não escapamos da subjetividade do Outro pela influência do seu
olhar, daí ser vaidoso ou não tanto faz. Tento me completar ao ser esvaziado da
subjetividade pelo olhar da pessoa, mas não dispenso jamais a minha
suscetibilidade à vergonha. É matar a
galinha dos ovos de ouro, disse Sartre.
E você: qual a sua posição? Você enxerga quais pontos
positivos e negativos na vergonha- nada mais nada menos que um fator
psicológico. Você acha a vaidade uma ilusão? Se não, qual a sua objeção? Pois
apesar de ser uma ilusão, ela, de fato, é nossa necessidade, uma necessidade humana.
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