A escola sem dúvidas é o local do aprendizado efetivo, nela encaramos exames e pela arguição com nossos professores e pelo diálogo com eles e entre colegas podemos confirmar nossos conhecimentos sobre determinado assunto e tomarmos ciência dos pontos, dos aspectos em que estamos errando. À universidade atribui-se o mesmo valor quando há, de fato, interesse. Negar a presença nestes ambientes e trancafiar-se a fim de buscar por si conhecimento ou, enfim, o autodidatismo é um auto-engano e o objetivo deste texto simplesmente é esclarecer o porquê dessa atribuição a essa prática.
O ensino formal apresenta os seus problemas e eles
são graves, não podemos negar: professor mal pago com hora-aula valendo menos
que atividades banais, déficits de estrutura nas escolas públicas e
universidades, má distribuição dos conteúdos e disciplinas, falta de
professores, etc., mas isso não justifica o desprezo de um indivíduo por esse
sistema. É notável que para ser burro é indiferente estar dentro ou fora da universidade
e o autodidatismo ao qual me refiro não é apenas aquela busca que fazemos quando
uma disciplina de um determinado período tem prejuízos e precisamos correr
atrás do que foi perdido lendo nos livros de autores especializados, por
exemplo, não, não é isso. Ser autodidata aqui se refere ao desprezo pela
educação formal aliado a um ressentimento contra os acadêmicos que muitas vezes
é acompanhado pelo alinhamento ideológico, principalmente à direita, banal hoje em dia, algo que tornou rara a discussão inteligente sobre política,
principalmente nas redes sociais.
O autodidata por repulsar a educação formal deixa de
pôr seus conhecimentos à prova por meio de diálogos com os colegas de saber. Um
fato muito comum que encontramos na atualidade é um adepto do autodidatismo
angariando milhões de seguidores: por ter cursado um péssimo ensino básico uma
grande parte da população dá créditos a um embusteiro qualquer e o tomam como
um ‘deus’ que jamais pode ser questionado e o tal passa a ser tomar como um
grande sábio e podemos até mesmo constatar que muitos que defendem a prática
autodidata e esbravejam contra universidades como a USP são incapazes até mesmo
de serem aprovados no ENEM e em vestibulares.
Enfim, gente, apesar do autodidatismo apresentar
suas ‘vantagens’: liberdade intelectual, autonomia argumentativa. Nós na
universidade devemos combater práticas como as relatadas. A escola, apesar dos
defeitos, ainda é a solução. Foucault colocou que ela adapta a alma ao corpo,
trazendo o amadurecimento e assim, a responsabilidade. Na Filosofia, temos a
necessidade de passar pelo elenkhós- o método de refutação socrático- e apenas o
banco acadêmico ainda pode nos proporcionar isso e não quando nos trancamos em
um quarto a fim de absorver um conteúdo de um livro e sair por aí alarmando que
ele é y quando, pela falta da refutação, é Z. E, apesar de esclarecermos isso,
muitos ainda questionam em prol do autodidatismo. E até hoje eu não consegui
entender o porquê de até certos acadêmicos tomarem o combate ao autodidatismo
como uma polêmica.
Deixo como frase final:
Ser autodidata é como prosseguir na leitura de um
livro sem entender o que foi lido nas páginas anteriores.
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